Editorial – 6 meses de mandato

Editorial – 6 meses de mandato

Este material é uma síntese dos primeiros seis meses do nosso mandato. O povo gaúcho me concedeu a honra de poder estar nesse momento histórico no Congresso Nacional, encarando nosso mandato como caixa de ressonância das lutas populares e sociais. Agradeço imensamente a confiança de 114 mil e 302 gaúchos e gaúchas.

O fato é que o mar da política está agitado. Infelizmente, o filho mais podre do sistema político apodrecido, Jair Bolsonaro, elegeu-se presidente. A crise econômica combinada com a crise de representação, levou um setor do povo a comprar gato por lebre. Bolsonaro se elegeu se vendendo como “antissistema”, aproveitando a indignação popular com o regime político e com a velha esquerda que decidiu governar com os mesmos métodos do establishment político brasileiro. Um setor importante do povo começa a se dar conta de seu erro, mas ainda precisamos aprofundar essa experiência.  

Estamos diante de um governo que combina uma agenda ultraliberal, antipovo e de submissão aos interesses estadunidenses com uma ala de lunáticos. Setores reacionários que querem retroceder em avanços civilizatórios de décadas. Talvez séculos. Descrever os ataques diários e as declarações absurdas de Bolsonaro daria um livro. Mas é preciso extrair desse cenário os principais elementos. Um governo autoritário, que na mesma medida em que perde apoio do povo (sendo o governo de primeiro mandato pior avaliado em seis meses desde a redemocratização), sinaliza ainda mais para sua base de extrema-direita. Esses mesmos que defendem o fechamento das liberdades democráticas, que mentem sobre a história, que buscam a todo tempo atacar a Constituição de 1988. Entretanto, temos muitas reservas democráticas, que estão nos movimentos de mulheres, nos jovens, na resistência dos indígenas, nos negros e negras, na comunidade LGBTI+ e na história do movimento operário brasileiro.

A juventude botou a bola no meio do campo de novo quando protagonizou um verdadeiro tsunami na educação nos dias 15 e 30 de maio. E a luta da educação segue em curso. O segundo semestre precisa ser marcado pela defesa da educação pública e contra a privatização do saber.

Infelizmente, tivemos a aprovação da Reforma da Previdência na Câmara Federal. A unidade burguesa muito superior ao próprio governo fez uma campanha diuturna contra a aposentadoria do povo. As questões objetivas de um país com 13 milhões de desempregos e 35 milhões de pessoas na informalidade combinada com questões subjetivas de burocratização de muitas direções sindicais, fez com a classe trabalhadora não tenha entrado com toda a sua força nesta luta. Verdade que a greve geral do 14 de junho foi importante e teve sua força, mas insuficiente para derrotar o projeto de conjunto. A lei que foi votada na Câmara foi o retrato da luta de classes neste momento histórico. O movimento conquistou a retirada da capitalização, das trabalhadoras rurais, do BPC, suavizou um pouco o tempo de contribuição das mulheres e a regra de transição para professores entre outros, mas não suficiente para derrotar o projeto de conjunto. Felizmente, nenhuma derrota e nenhuma vitória são definitivas.

É preciso não esmorecer diante das investidas diárias de um presidente inimigo das liberdades democráticas. É como uma guerra de trincheira. Não é de se admirar que as pessoas estejam chocadas. Um presidente que rasga a história e ataca a memória de Fernando Santa Cruz, assassinado pelo Estado brasileiro na Ditadura civil-militar, que apoia os crimes contra a humanidade produzidos nesse período, que demite o presidente do Inpe por este revelar os dados do desmatamento na Amazônia, que quer indicar o filho à embaixada do Brasil nos EUA, que silencia diante dos ataques de garimpeiros a tribos indígenas e ainda quer liberar a exploração mineral nessas terras. São coisas para se assustar.

Entretanto, a luta é de médio prazo. A capacidade de desumanidade e de mentiras não pode nos paralisar. Ao contrário deve servir de motor para que possamos fazer uma agenda de resistência aos ataques e enfrentar mais rapidamente possível estes tempos históricos. Unidade de ação com todos para defender as liberdades democráticas, frentes únicas da classe trabalhadora para defender os direitos da classe e independência política para apresentar uma nova alternativa de esquerda como é o PSOL. Mais do que isso, é preciso apostar.

Nestas guerras de trincheiras cada passo que a extrema-direita não consegue dar é uma vitória. É preciso defender com unhas e dentes a liberdade de imprensa e o trabalho jornalístico sério como o de Gleen Greenwald e iniciativas como o ato histórico que a ABI fez no Rio de Janeiro. Apostar na luta dos estudantes e da comunidade educacional para ganhar o povo para a defesa da educação, que é uma luta de maioria.

O povo sabe que a educação é fundamental para melhorar a vida e o país. E é justamente desta juventude em luta que pode sair o novo. E lembrar sempre as histórias de luta e de resistência do nosso povo, que já lutou em tempos históricos bem mais difíceis. Como disse o samba da Mangueira “Brasil chegou a vez de ouvir as Marias, Mahins, Marielles, malês”. A história que a “história não conta” é fundamental para conhecermos nosso passado, mas sobretudo, construir um novo futuro.

Agora é nossa vez de enfrentar o autoritarismo, agora é a nossa hora! Estou convencida de que o Brasil é maior que Bolsonaro e que juntos podemos vencer!