Desde o início da pandemia, tínhamos claro que Bolsonaro seria um entrave ao enfrentamento à Covid-19 no Brasil. Por essa caracterização eu, Sâmia Bomfim, David Miranda, Luciana Genro e mais de 200 intelectuais e artistas protocolizamos um pedido de impedimento de Bolsonaro, que foi apoiado por mais de um milhão de pessoas. Não temos dúvida que Bolsonaro já cometeu inúmeros crimes de responsabilidade, mas a urgência da crise sanitária impunha medidas mais duras por parte da esquerda socialista.
De lá para cá nossa caracterização só se confirmou. As medidas desrespeitando governadores e prefeitos, a demora na garantia da renda básica para o povo, a demissão de Mandetta justamente porque o ministro da saúde cumpria as recomendações da OMS e até a convocação de marchas, claramente golpistas, em meio à pandemia foram os passos seguintes. As revelações da interferência política na Polícia Federal feitas por Moro foram mais um golpe pesado que balançou o governo Bolsonaro e dividiu a base bolsonarista.
Até o momento vários partidos e entidades fizeram seus pedidos de impedimento. Rede, Ciro Gomes e o PDT, PSB, Associação Brasileira de Imprensa. São mais de 24 pedidos.
Agora é preciso unir todos os pedidos e ampliá-los, incluindo quem ainda não decidiu entrar nessa luta também.
Entretanto, a direção do PT e sua maior liderança, o ex-presidente Lula, têm afirmado que não é o momento correto para o impedimento. É urgente que mudem de posição. Seus 56 deputados são muitos e pesam nessa decisão. No dia 21 de abril as bancadas da Câmara e do Senado do PT assumiram a consigna do Fora Bolsonaro, o que é muito importante. Mas precisamos dar o passo adiante. É preciso juntar o maior número de deputados na luta pelo impedimento do presidente criminoso. Sob o risco de, nesse ínterim, Bolsonaro reconstituir suas forças, comprar deputados e, ao mesmo tempo, ao colocar na Polícia Federal e no Ministério da Justiça gente de sua confiança, avançar no seu plano ditatorial.
Essa é a tarefa agora, impedir que essa mudança de qualidade aconteça no regime político. É no tempo presente que disputaremos qual vai ser o futuro. As condições de normalização não irão se apresentar, pois o governo é anormal. O pior erro que pode-se cometer é se pautar pelo calendário eleitoral de 2022. Esperar que Bolsonaro sangre até lá significará milhares de mortes pela Covid-19 e a radicalização da extrema-direita que ao diminuir se recrudesce. A história já nos ensina, nenhum governo cai de podre e a extrema-direita precisa ser derrotada estrategicamente. Caberá a nós mostrar que o Brasil é muito maior que Bolsonaro.