O racismo como elemento estruturante do Capitalismo é determinante para a superexploração e vitimização do nosso povo preto. Historicamente vivemos sob a alegação de que o Brasil possui uma democracia racial e, dessa forma, crimes de racismo e violação de direitos são cometidos cotidianamente de forma impune. A verdade é que o racismo não pode ser compreendido simplesmente como uma prática individual ou de grupos, mas sim enquanto um processo histórico e político constituído por um conjunto de práticas e políticas que, consciente ou inconscientemente, confere desvantagens a uns e privilégios a outros. Não à toa, as mulheres negras e da periferia foram as mais vitimadas pela pandemia e as mais afetadas nesse momento pela crise e pelo desemprego, diante do fim do auxílio emergencial, que Bolsonaro, na verdade, nunca quis dar. Além disso, como mostra o Atlas da Violência 2021, em 2019, a cada 2 horas uma mulher foi assassinada no Brasil, sendo que 66% delas eram mulheres negras. No mercado de trabalho mulheres seguem recebendo em média apenas 77% do que recebe um homem, e mulheres negras apenas 33% do que um homem branco.
Estatisticamente, também, sabe-se que a cada vinte e três minutos, morre uma pessoa negra no país, na maioria das vezes, vitimadas pelo Estado. Para citar casos recentes e apenas no RS, a abordagem de um policial que levou à morte Gustavo Amaral, engenheiro elétrico e jovem negro de Marau, e de um segurança privado do Carrefour, que vitimou de forma brutal João Alberto, outro homem negro mostram, como diz Elza Soares, como a carne mais barata do mercado é a carne negra. Na maioria das vezes a alegação de legítima defesa imaginária se torna a justificativa aceita pela Justiça, o que faz com que as vidas negras, que já eram descartáveis, tornem-se mais desprezíveis para o sistema.
Com o governo Bolsonaro, a alegação criminosa de que não existe racismo no Brasil voltou a ser propagada, e ainda tivemos um negro no posto da Presidência da Fundação Palmares que militou arduamente contra a negritude, foi acusado de assédio moral, perseguição ideológica contra servidores, e atacou a memória inclusive de nossa vereadora, brutalmente assassinada, Marielle Franco. Nosso mandato lutou para impedir retrocessos no pouco de direitos conquistados pela nossa negritude, contra o genocídio da juventude negra e periférica e com a construção, através da educação antirracista, de uma sociedade livre do racismo e qualquer forma de preconceito. A tarefa árdua para 2022 será impedir qualquer retrocesso em torno da Lei de Cotas (12.711/12), que previu a reserva de 50% das vagas das universidades e institutos federais de Ensino Superior a estudantes de escolas públicas, incluindo o recorte racial.