Nota da deputada federal Fernanda Melchionna – presidente da Frente Parlamentar em Defesa do Livro, Leitura e da Escrita
É com extrema preocupação que a Frente Parlamentar em Defesa do Livro, da Leitura e da Escrita manifesta-se diante do veto à participação da escritora Milly Lacombe na Feira Literária de São José dos Campos (Flim). O episódio ocorreu em razão de uma opinião emitida meses atrás, em contexto alheio ao evento, que foi desvirtuada e utilizada como justificativa para sua exclusão.
Milly Lacombe é jornalista, escritora e roteirista brasileira, reconhecida como uma das pioneiras no comentário esportivo feminino no país e como defensora dos direitos LGBTQIAP+. Nascida no Rio de Janeiro, construiu uma carreira sólida em veículos de grande prestígio, como SporTV, Rede Globo, TV Record, Revista Trip e, atualmente, UOL. Foi uma das primeiras mulheres a comentar partidas de futebol na televisão brasileira, integrando programas como Esporte Espetacular.
Além do jornalismo, Milly construiu uma trajetória notável na literatura e no roteiro. Publicou seis livros, entre eles Segredos de uma Lésbica para Homens, Tudo é Só Isso, O Ano em Que Morri em Nova York, obras que se destacam pela sensibilidade, crítica social e defesa da pluralidade de vozes.
Trata-se de um grave ato de censura afastar uma mulher com trajetória consolidada na literatura de um espaço que deveria celebrar a cultura, a diversidade e a liberdade de expressão. As mulheres, historicamente silenciadas e excluídas dos ambientes de produção cultural, continuam a enfrentar manifestações de machismo e misoginia que tentam calar suas vozes.
A justificativa apresentada pelo prefeito de São José dos Campos, Anderson Farias (PSD), de que a feira não poderia servir de “palanque ideológico”, revela-se contraditória. O que se viu foi justamente o oposto: um cerceamento explícito da liberdade de expressão e da diversidade de pensamento.
Em solidariedade a Milly Lacombe, diversos autores anunciaram a desistência de participar do evento, mobilização que resultou inclusive no cancelamento da feira. Este fato demonstra que a censura não encontra respaldo entre aqueles comprometidos com a literatura e com os valores democráticos.
A Frente Parlamentar em Defesa do Livro, da Leitura e da Escrita reafirma seu compromisso com a liberdade de expressão, com o respeito à pluralidade e com a defesa intransigente da criação literária. Não aceitaremos que divergências políticas ou ideológicas sirvam de pretexto para deslegitimar o trabalho de escritoras e escritores.
Seguiremos firmes contra toda forma de perseguição, cerceamento e censura. A literatura brasileira não se calará.
Brasília, 18 de setembro de 2025