A deputada federal Fernanda Melchionna (PSOL-RS) recebeu em Porto Alegre e Brasília a comandante guerrilheira da Nicarágua Mónica Baltodano para uma série de agendas com o objetivo de denunciar o regime autoritário de Daniel Ortega. Na quarta-feira (13), a parlamentar aprovou uma moção de solidariedade aos expatriados da Nicarágua.
A moção foi aprovada por 21 x 1 votos na Comissão de Relações Internacionais e Defesa Nacional e é o início de uma importante articulação internacional com o objetivo de que o Brasil, assim como Argentina, Chile Colômbia e México, abrigue quem perdeu a nacionalidade nicaraguense por perseguição política, como Mónica Baltodano.
Ainda na quarta-feira, Mónica, que é uma das únicas três mulheres que alcançaram o posto de comandantes da revolução sandinista de 1979 e hoje vive exilada na Costa Rica, realizou uma palestra na Câmara dos Deputados onde relatou a situação vivida por ela e outros tantos expatriados. Além da militância do PSOL, estiveram presentes no encontro as deputadas federais Sâmia Bomfim (PSOL-SP) e Lídice da Mata (PSB-BA), os deputados federais Chico Alencar (PSOL-RJ) e Orlando Silva (PCdoB-SP) e o deputado estadual Prof. Josemar (PSOL-RJ).
A comandante também reuniu-se com a Comissão Brasileira de Justiça e Paz, entidade ligada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e com o deputado distrital Fábio Felix (PSOL-DF). Já na quinta-feira (13), Mónica e Fernanda se reuniram com diplomatas do Ministério das Relações Exteriores para tratar sobre a possibilidade de o Brasil oferecer asilo para os nicaraguenses expatriados.
Em Porto Alegre, além de uma reunião com parlamentares na Assembleia Legislativa _ onde estiveram presentes o vereador Pedro Ruas (PSOL) e deputada estadual Sofia Cavedon (PT), o ex-prefeito Raul Pont (PT), entre outras lideranças _ Mônica também realizou uma palestra na Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS para denunciar o regime de Ortega.
“É um prazer receber e aprender com uma das poucas mulheres que foram comandantes de uma revolução e a visita dela ao Brasil é de suma importância para denunciar os absurdos que estão acontecendo na Nicarágua. Mais de 200 nicaraguenses foram colocados num voo para os Estados Unidos sem documentos e então expatriados por se oporem a um regime autoritário com graves violações de direitos humanos. A visita de Mónica é uma articulação internacional fundamental para o auxílio aos nicaraguenses perseguidos”, afirma Fernanda.
Mónica explica que a atual situação da Nicarágua é a antítese de um projeto revolucionário ou de esquerda, e classifica o cenário como um projeto pessoal e familiar de manutenção de poder.
“A derrota da revolução veio quando a condução revolucionária decidiu que não existia mais condições de realizar transformações sociais e começou uma deriva neioliberal e autoritária. A Frente Sandinista se converteu em um aparato controlado por Ortega. O que está acontecendo é uma distopia, uma situação absurda, que inclui manifestantes sendo assassinados por franco atiradores”, relata a comandante.
Além de Brasília e Porto Alegre, Mónica também esteve em São Paulo e Rio de Janeiro.
Sobre Mónica Baltodano
Historiadora, 70 anos, Mónica figura entre os nomes mais importantes da política nicaraguense nos últimos 40 anos. Foi uma das três mulheres que receberam o grau honorário de Comandante Guerrilheira após o triunfo da revolução sandinista. Exerceu o cargo de vice-ministra da Presidência, ministra dos Assuntos Regionais e membro do Parlamento até que se opôs ao pacto no qual o ex-presidente Arnoldo Alemán (1997-2002) e Daniel Ortega dividiram o poder da Nicarágua.
Eminente membro da oposição do governo Ortega (que está na presidência da Nicarágua desde 2007), Mónica foi presa por participar do Movimento de Renovação Sandinista e exigir a libertação de presos políticos em 2019. Em fevereiro passado, o regime autoritário a incluiu no rol dos 94 opositores declarados apátridas pelo governo. Além de retirar a nacionalidade do grupo, Ortega confiscou bens e mesmo os registros da seguridade social dos expatriados – integrados a um grupo de 222 nicaraguenses que foram expulsos do país em voo fretado rumo aos Estados Unidos.
“O objetivo de Ortega é a execução, a eliminação civil e material de todos nós, dos 94 expatriados, mas também dos 222 oponentes que foram brutalmente presos, alguns deles por até três ou quatro anos”, afirmou Mónica em entrevista ao site LadoB, da Costa Rica, onde vive em exílio.
Autora dos quatro volumes de “Memórias da Luta Sandinista” (www.memoriasdelaluchasandinista.org), Monica contará sobre sua trajetória e o contexto político da Nicarágua – para onde pretende voltar assim que a ditadura cruel do governo Ortega for derrubada. Confira a seguir parte da agenda (programação sujeita a alterações).