*Fernanda Melchionna (deputada federal do PSOL/RS)
As passeatas de ontem (9) foram uma demonstração rápida da resistência democrática ao 8 de janeiro, que ficará para a história como a tentativa de Capitólio à brasileira. Diferente dos EUA, com um ação golpista imediata e no sentido de não dar posse a Biden, no Brasil vimos e alertamos a escalada da organização golpista que desde o resultado da eleição se alimentavam de teoria golpista sobre o resultado das urnas. Foram dois meses de preparação.
No início, com trancamento de vias e obstrução de rodovias com intuito claro de não reconhecer o novo governo. A reação estatal demorada diante de um ainda Ministério da Justiça comandado por Anderson Torres e Bolsonaro, coube aos governadores e ao STF garantir a normalidade sem muita reação no sentido de responsabilizar os agentes da provocação fascistas.
Com a posse de Lula, e o novo governo empossado, a mesma estrutura empresarial e radicalizada do golpismo seguiu operando para organizar a chegada de uma caravana com uma centena de ônibus à capital federal. Quem é do movimento sabe que o número de participantes da ação de domingo foi diminuto, e com muito mais gente seria impossível invadir a sede do Câmara Federal, Senado e Supremo se não houvesse uma prevaricação do governador do DF, Ibaneis Rocha, ao deixar as condições para o golpismo atuar. Também foi uma ingenuidade de Dino acreditar nos relatos do governador e, o mais grave, uma ação deliberida de Múcio Monteiro, ex-Arena e indicado por Lula para o Ministério da Defesa para “apaziguar” com as Forças Armadas. O mesmo Múcio que disse que os acampamentos golpistas eram democráticos e que diálogo resolveria a situação.
Mais do que a conclusao óbvia de que não se negocia com o fascismo, os lamentáveis episódios deo último domingo são a demonstração de que o bolsonarismo está entranhado em parte significativa das Forças Armadas, com simpatia nas polícias militares, financiada por setores burgueses que foram ao fascismo, ao que tudo indica com peso no agronegócio, sem contar as camadas das classes médias e base de fundamentalistas religiosos.
Claro que a violência de domingo isola a extrema direita. Na superestrutura se amplia os setores que endossaram a linha de investigação e punição do Capitólio Brasileiro como vimos na reunião de Lula com os 21 governadores e chefes de todos os poderes, sob pena da desmoralização do regime burguês. Entretanto, isso é insuficiente para cortar a cabeça do fascismo.
Cortar a fonte de financiamento, exigir a responsabilização criminal dos vândalos, responsabilização civil e criminal de Anderson Torres e de Ibaneis assim como respaldar a intervenção federal são medidas imediatas. Mas, a prisão do chefe, do principal responsável pela articulação da extrema direita brasileira, Jair Bolsonaro é urgente. É urgente pelas vítimas do passado, mas também para não termos novos capitólios no futuro. É a prisão do símbolo de poder.
Não há espaço para conciliação e anistia. O presente nos mostrou onde esse caminho leva. A retroalimentação dos fascistas e ações mais violentas e organizadas de sua parte. Evidente que não teriam correlação de forças para tomar o poder de assalto como gostariam. Mas uma minoria violenta pode fazer mto estrago. Qualquer relativização das ações golpistas é sinal de cumplicidade, qualquer tentativa de conciliação é dar tempo aos fascistas para seguir com seus canais paralelos de comunicação e fale news e qualquer tergiversacao nós cobrará caro no futuro. Quando falamos em justiça é evidente que não se trata de vingança, mas da possibilidade de efetivamente dizer “Não Passarão!” A ausência de justiça de transição no final da ditadura mostra as consequências até a atualidade.
As passeatas de hoje são um começo importante para demonstrar que o Bolsonarismo também se derrota nas ruas. Seguir nas ruas e construir nosso calendário unitário contra o golpismo que culmine no calendário de lutas de março.
Assista a fala do vereador do PSOL em Porto Alegre e dirigente nacional do PSOL, Roberto Robaina: