Texto escrito por Ingra Costa e Silva (PSOL-Passo Fundo), Laura Remus Moraes, (PSOL – Porto Alegre) Luciana Kramer (PGE-RS/UCS), Stéphanie Estrella (Juntas RS), Tamires Pavelgio (PSOL-Gravataí) e Victória Farias (Juntas RS)
A comemoração de hoje, dia 8 de março, vai muito além de flores e chocolates. A data representa a coragem e a luta das trabalhadoras. A proposta para a criação do Dia Internacional da Mulher foi feita pela membra do Partido Comunista Alemão, Clara Zetkin, em 1910, no II Congresso Internacional de Mulheres Socialistas, em Copenhagem. A data marca a luta das operárias das fábricas têxteis, no final do século XIX, momento em que as mulheres foram protagonistas na reivindicação por melhores condições de trabalho. É um marco no processo de luta pelos direitos das mulheres. O 8 de março em nada tem a ver com a exaltação de nossa feminilidade ou quaisquer outras características que a sociedade, machista em sua essência, tenta nos impor como adequadas ou esperadas.
Ao longo dos últimos anos temos presenciado a ascensão do feminismo: seja nas redes sociais ou em rodas de conversa, mulheres e meninas estão cada vez mais engajadas na luta contra a sociedade patriarcal. Com o movimento #EleNão, em 2018, milhões de mulheres protestaram contra o perigo que representava a figura de Jair Bolsonaro, antes mesmo de ser eleito. Em menos de 24 horas mulheres se organizaram em um grande grupo e catapultaram diversas intervenções em milhares de cidades. Graças à união das mulheres, construiu-se uma agenda que impediu a vitória de Bolsonaro no primeiro turno. Após o resultado eleitoral, com o mote “ninguém solta a mão de ninguém”, continuamos a luta contra um presidente que ameaça a vida das mulheres cotidianamente.
Historicamente as mulheres representam um dos principais polos de oposição às políticas de extrema-direita. Nos últimos anos denunciamos o caráter autoritário, antidemocrático e genocida de Jair Bolsonaro e concretizamos massivas manifestações no 8 de março, com milhares de mulheres nas ruas, ocasiões em que bradamos que não somos “fraquejadas” e exigimos o impedimento do presidente.
Em 2020 passamos a enfrentar uma pandemia sem precedentes que mudou completamente a forma de organização dos movimentos sociais. Agora, um ano depois do primeiro caso de COVID-19 no Brasil, enfrentamos diversos questionamentos: quando sairemos desta crise? Como derrubar um presidente que nega a ciência, espalha fake news, ataca as universidades e é responsável direto por mais de 250 mil mortes? Seguiremos na contramão mundial de combate ao vírus? Em 2020 o 8M foi o último grande ato antes do isolamento social e agora, em 2021, o Dia Internacional de Luta das Mulheres não poderá seguir o tradicional formato de atos massivos de rua e conta com os efeitos nocivos de 1 ano de pandemia.
Ocupando 65% dos cargos na área da saúde, as mulheres estão na linha de frente do combate à pandemia. Os números de feminicídios aumentaram expressivamente no último ano, já que muitas mulheres se viram obrigadas a permanecer em isolamento social junto dos seus agressores. Segundo dados de 2015[1], quase 30 milhões de famílias brasileiras são chefiadas por mulheres. Também são elas as mais atingidas pelo desemprego, uma vez que ocupam mais trabalhos em áreas como hotelaria, alimentação e serviços domésticos, além da alta taxa de informalidade. Na educação também somos maioria. As mulheres estão tendo que lidar com o trabalho remoto, com o ensino remoto de seus filhos e com a organização do trabalho doméstico. As mães que não puderam trabalhar remotamente viram seus filhos desamparados pelo fechamento de creches e escolas.
Esses e tantos outros motivos que evidenciam a importância deste 8 de março como marco de rearticulação do movimento feminista, para que siga sendo um polo combativo ao bolsonarismo e à extrema direita no país. É certo que não será um 8 de março tradicional, com grandes manifestações e milhares de mulheres ocupando as ruas, mas ainda terá a força para abrir o calendário de mobilizações de 2021 e impulsionar as lutas pelo auxílio emergencial, vacina para todas e todos, contra a violência machista e pelo impeachment de Bolsonaro!
O feminismo é necessário para que a democracia exista. A organização das mulheres muda o mundo e juntas podemos transformar o Brasil em um país que respeite a pluralidade do seu povo. Buscando transformar essa realidade em que trabalhadoras são massacradas pelos desmandos de um governo que não se importa com a vida das pessoas, que mulheres seguem sendo mortas pelos seus companheiros, que meninas são abusadas, que mulheres trans são brutalmente assassinadas, fizemos da nossa dor luta e pensamos junt@s em um material que servirá como ferramenta para inspirar a organização das mulheres que já não suportam esse cenário. Entendendo a necessidade de estarmos juntas e organizadas, o mandato da deputada Federal Fernanda Melchionna (PSOL/RS) está construindo um caderno feminista que servirá como inspiração para que sigamos cada vez mais unidas e combativas. O caderno está sendo elaborado coletivamente e será lançado no próximo dia 25 de março.
[1] Dados da pesquisa “Mulheres chefes de família no Brasil: avanços e desafios”, realizada por Suzana Cavenaghi, José Eustáquio Diniz Alves, disponível em: https://www.ens.edu.br/arquivos/mulheres-chefes-de-familia-no-brasil-estudo-sobre-seguro-edicao-32_1.pdf Acesso em: março de 2021.