No dia 22 de maio foi divulgado o vídeo da “reunião” ministerial de Bolsonaro, denunciada por Moro como a prova de que ele tentou interferir politicamente na Polícia Federal. O vídeo não perde em nada para algum filme que mostre reuniões de máfia pelo conteúdo e palavreado. A reunião, além de deixar nítida a tentativa de interferência política na Polícia Federal, quando Bolsonaro fala de sua segurança, de seus filhos e de seus amigos, quando cobra informações antecipadas e privilegiadas dos órgãos de segurança, choca qualquer pessoa pelo vocabulário chulo e a frieza com que a cúpula do governo tratava o covid-19 em meio a maior pandemia sanitária da nossa história recente.
Neste dia, o Brasil já havia perdido 3 mil vidas para o coronavírus. A pandemia só foi lembrada como salvo-conduto para desmatar a Amazônia. Além de seu conteúdo denotar absoluto desprezo para a situação sanitária, vemos um conjunto de intervenções criminosas e claramente antidemocráticas.
Não podemos naturalizar a gravidade das declarações. Trata-se de uma reunião criminosa em meio a uma pandemia, que já levou a morte nesse momento de mais 22 mil brasileiros e transforma o Brasil em um dos maiores epicentros de contágio do mundo.
Sabíamos desde março que combater Bolsonaro era uma medida sanitária. Para salvar vidas nos dedicamos a empreender toda a luta política necessária contra esse criminoso. Fomos pioneiros na esquerda ao apresentar um pedido de impedimento com duzentos intelectuais e artistas que coletou 1 milhão de assinaturas em 18 de março. De lá para cá muitos pedidos de impeachment foram protocolados. PDT, Rede, PSB, um unificando PSOL, PT, PcdoB, UP, PCB e PSTU e que contam nossa assinatura também. Todas as iniciativas contra Bolsonaro terão nosso apoio.
Partidos de oposição e entidades democráticas, sindicais, estudantis, camponesas e populares, muitas dais quais subscritoras dos diversos pedidos de impeachment.
É necessário unidade de ação, um planejamento comum de luta. Isso requer uma ampla reunião que permita traçar um plano de ação. Não bastam notas de repúdio. Não bastam ações parlamentares. Não bastam sequer os pedidos de impeachment. Não basta tampouco esperar as eleições. É preciso a unidade já. É preciso a unidade para atuar. Nas redes e nas ruas, com obediência às medidas sanitárias, o que exige muita organização, disciplina e criatividade.
O fato é que a crise se aprofunda no Brasil, os sistemas de saúde dos estados começam a colapsar, a pandemia se alastra com muita intensidade, a economia caminha para a depressão. Não temos dúvida de que Bolsonaro tem perdido apoio popular, sua rejeição aumentou 10% nos últimas semanas, mas o isolamento social necessário também nos traz uma contradição. Não podemos ocupar as ruas com mobilizações democráticas que seriam necessárias para mostrar nossa força e impor uma saída popular para a crise.
Entretanto, o criminoso Bolsonaro e sua tropa de extrema-direita cada vez mais diminuta, mas armada e perigosa, segue nas ruas. Manifestações golpistas e pequenas têm sido realizadas todas as semanas.
Não podemos deixar as ruas para eles. É preciso dar o passo adiante. Unificar todos os partidos da oposição com responsabilidade, mas também com dimensão histórica. Frente as novas ameaças é preciso fazer uma mobilização unitária e muito bem preparada para respeitar o distanciamento social como foi feito em TelaViv com uma consigna clara como “Em defesa do SUS e das liberdades democráticas: Fora Bolsonaro”.
Necessitamos ainda de todo apoio internacional possível como forma de alastrar a solidariedade e fazer um cerco à extrema-direita.
É um momento difícil, mas não podemos ficar olhando qual será o desfecho no andar de cima enquanto o Brasil caminha para o abismo. Lutar para salvar vidas impõe ousadia, coragem e preparação.