Não tenho dúvidas de que a luta das lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais é fundamental para a batalha em curso contra o governo reacionário de Bolsonaro. As 3 milhões de pessoas que ocuparam as ruas de São Paulo na maior festa da comunidade LGBTI+ do mundo, junto às diversas paradas pela diversidade que estão sendo realizadas no Brasil, têm sido um catalisador importante contra essa gestão que, através de um discurso conservador, legitima a LGBTfobia e a violência contra essa população já duramente atingida pelo desmonte das áreas sociais.
Bolsonaro vem provocando e atacando a comunidade LGBTI+ constantemente desde à época em que era deputado federal, mas ganhou força e concentração a partir do momento em que se candidatou à Presidência. Em uma ação estratégica de coesionar apoio entre as camadas mais preconceituosas da sociedade, utilizou as pessoas LGBTI+ como inimigos a serem combatidos.
Dentre vários ataques, os mais recentes são bastante simbólicos. A acusação estapafúrdia feita pelo presidente durante entrevista de que nosso companheiro e deputado federal David Miranda teria comprado o seu cargo parlamentar envergonha a democracia brasileira, sem falar nos deboches homofóbicos dos parlamentares do PSL em relação ao seu relacionamento com Glenn Greenwald. No mesmo vídeo, ainda se refere ao ex-deputado federal Jean Wyllys como “menina que está lá fora” de forma visivelmente preconceituosa. Sendo um vetor distribuidor de fake news, Bolsonaro despreza a violência contra a população LGBTI+, um problema gravíssimo que o Brasil nunca combateu com propriedade e que, nos últimos meses, passa por um movimento inverso de desconstrução de tudo o que foi conquistado até agora.
Se já não bastasse a atuação teatral na Câmara dos Deputados, por parte de parlamentares da base de Bolsonaro, que fazem escândalos cada vez que a palavra “gênero” aparece nas discussões, o governo está alinhando sua política externa a valores conservadores a fim de combater o que chama de “ideologia de gênero”. Na opinião deles, a luta contra a discriminação e violência à população LGBTI+ é uma tentativa de manipular a sociedade para que se ache normal algo que é puramente ideológico por parte da esquerda. Como se a visão desses moralistas da extrema-direita não fosse ideológica. Além disso, as manifestações dos diplomatas brasileiros na ONU, opondo-se à proteção às mulheres e LGBTI+ contra violência têm deixado a maior parte das representações, de países que mantém relações diplomáticas com o Brasil, estupefatos. E nós, cidadãs e cidadãos, envergonhados.
Apesar deles defenderem a volta de uma sociedade que está ficando para trás, nós lutaremos com tudo para que esta não retorne. Os LGBTI+ não vão voltar aos armários, os negros e negras não voltarão às senzalas e as mulheres não serão obrigadas a voltar às cozinhas.
A luta que o dia 28 de junho nos lembra, da grande revolta de Stonewall, em que pessoas LGBTI+, em especial trans e travestis afrolatinas, levantaram-se contra a violência que sofriam diariamente, precisa continuar servindo de inspiração para os novos passos. Como aliada da luta, fico esperançosa em ver o salto de politização e qualidade que os movimentos que lutam pela diversidade sexual e de gênero ganharam para enfrentar os governos reacionários que se espalham pelo mundo, com o ascenso de Trump, Duterte, Orbán e tantos outros fanáticos. Esta resistência será marcada pela interseccionalidade na luta de classes. O orgulho será o combustível da resistência.
Artigo originalmente publicado no SUL 21: https://www.sul21.com.br/colunas/fernanda-melchionna/2019/06/orgulho-e-resistencia-lgbt-para-derrotar-bolsonaro/