Março nasceu imerso a uma catarse política. A onda de politização do Carnaval brasileiro mostrou que o Brasil é muito maior que Bolsonaro e seus asseclas. Para além das fantasias alusivas às laranjas, que já se tornaram a marca negativa desses 66 dias de governo, a vitória da Escola Estação Primeira da Mangueira, com um samba enredo crítico que recontou a história do Brasil, recriando até nossa bandeira verde-amarela, inaugurou o mês das mulheres com um verdadeiro tapa de luva. Empalmando, literalmente, a bandeira por Justiça para Marielle (cuja morte completa um ano no dia 14 de março e ainda segue sem respostas), a Mangueira levou o merecido título de campeã do Carnaval do Rio de Janeiro e deu o recado político que todos nós queríamos dar: o Carnaval é a legítima festa do povo, é parte da nossa cultura popular. Seguiremos fazendo das ruas nosso palco e da luta nossa forma de resistência assim como os negros, pobres e indígenas – os verdadeiros heróis brasileiros – sempre o fizeram desde a invasão do Brasil.
Após a grande festa do povo, o amanhã já anuncia o Dia Internacional das Mulheres, inaugurando oficialmente o nosso “Março de Lutas”. Internacionalmente nós, mulheres, já nos preparamos para ocupar as ruas em diversos países. De norte a sul do Brasil, diversos atos estão marcados. Em Porto Alegre nossas vozes ecoarão nossos gritos por Justiça para Marielle, pela vida das mulheres e contra a Reforma da Previdência.
A resposta das mulheres à crise social, política e econômica e à retirada de direitos precisa ser internacional!
A crise global do capitalismo, que iniciou em meados de 2008 nos EUA, abriu um novo momento histórico, que significou um abalo no neoliberalismo, uma mudança na situação política mundial e uma profunda crise de representatividade. As mulheres, desde 2011, foram parte ativa das lutas que desencadearam a Primavera Árabe na Tunísia, no Iêmen, na Síria e no Egito, ajudando a derrubar inclusive ditadores. Desde então vivemos um ascenso da Primavera Feminista, que vem se fortalecendo no mundo todo, tendo as mulheres liderando a resistência a governos reacionários e ao avanço da extrema-direita em vários países.
Assistimos ao fortalecimento da luta das indianas contra a cultura do estupro, aos fortes protestos das mulheres na Polônia contra retrocessos na lei do aborto, à conquista das mulheres na Islândia de uma lei que trabalha para erradicar a desigualdade salarial, ao levante das LGBTs contra as duras leis que proíbem a homossexualidade e qualquer manifestação LGBT em espaços públicos na Rússia. Nos EUA, as mulheres estão sendo linha de no combate às políticas machistas, racistas, xenófobas de Trump, tendo construído uma das maiores greves da sua história em 2017.
Na América latina foram recorrentes no último período as mobilizações feministas na Argentina pelo direito ao aborto legal e seguro e por #NenhumaAmenos diante dos altos índices de feminicídios, os protestos das universitárias e estudantes secundaristas pelo fim de uma educação sexista no Chile, as lutas pelo fim da violência sexual no Peru e pelo combate à violência de gênero também no Brasil.
Como Angela Davis disse, temos uma tarefa fundamental nesse próximo período: fortalecer a construção de um feminismo internaciona, antirracista, classista, transexual, transversal, interseccional. Março é nosso mês de luta para lembrar que não há nenhum direito adquirido, é preciso lutar permanentemente para assegurá-los, ainda mais em tempos de avanço da extrema-direita e de governos autoritários no mundo.
Honraremos também a luta daquelas que lutaram antes de nós. Marielle Franco, nossa companheira brutalmente assassinada, era uma de nós. E até hoje seu brutal assassinato segue sem respostas. Pelas nossas avós, mães, irmãs e amigas, seguiremos fortalecendo a máxima que a luta das mulheres muda o mundo e os rumos da nossa própria história. Por nenhuma a menos!
Baixe aqui a coletânea de textos #8M, produzida pela Comissão Internacional do Movimento Esquerda Socialista.
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