Já se passaram mais de 6 meses e seguimos de luto. Eu, como integrante da bancada feminista e do PSOL, como mulher e ativista, estou tomada de indignação e tristeza após a execução da nossa camarada Marielle e do companheiro Anderson no Rio de Janeiro. Tentaram calar nosso partido, a resistência e a importância da sua luta. Tentaram calar os defensores dos Direitos Humanos, a voz de quem sempre denunciou o genocídio da juventude negra, de uma mulher lésbica, ativista da favela da Maré, de uma aguerrida combatente contra as milícias. Quando tentam calar a Marielle tentam calar a todos nós.
Tentam apagar a história dos que lutam por uma sociedade diferente e denunciam um sistema que é capaz de ver 60 mil jovens mortos pela violência, em geral jovens negros e capaz de ver mulheres sendo assassinadas todos os dias por serem mulheres.
Vivemos em uma sociedade que diz que tem crise para alguns, mas que 6 bilionários têm a mesma renda que 100 milhões de brasileiros; onde tem criança sem creche, estudante sem escola, professores sem salário e a concentração de terra na mão de latifundiários. Enquanto tem muita gente sem terra e sem casa para morar. Mas a cada lágrima que cai aumenta a convicção de que, além do luto e de exigir justiça, há a necessidade de vingar os nossos mortos.
Temos o dever histórico de honrar Marielle e ao mesmo tempo entender que um crime contra ela é um crime contra todos nós.
É um crime contra os que lutam, um crime político aos que desobedecem uma ordem injusta. E essa é uma luta permanente para dizer que não nos calarão. Isso significa dizer “Marielle presente”, mas também dizer que os socialistas têm que estar mais fortes a partir de agora. E que se eles vão matar pessoas porque ocupam a política para denunciar este sistema, nós todos vamos ocupar mais a política. Não nos tirarão das ruas, das lutas e nossas vozes do Parlamento, que são verdadeiras trincheiras. Os mandatos não são um fim em si mesmos, e sim parte da luta por uma alteração da correlação de forças que favoreça os trabalhadores e uma nova ferramenta para enfrentar esta ordem injusta.
Para isso temos um desafio enorme. Transformar esta indignação também em programa para o Estado, para denunciar a farsa do governo privatista do Sartori e dizer que este projeto de recuperação fiscal é um engodo que vai endividar o nosso estado. Na prática isso significa privatização, congelamento dos salários e fechamento de escolas. Esse projeto vai agravar a política de segurança pública que é falida e que na periferia não tem Estado, não tem cultura nem esporte, que quando existem são feitos pela própria comunidade. Muitas vezes a polícia atua como tropa de choque para criminalizar a pobreza. Nós precisamos denunciar a situação das nossas mulheres, dos nossos jovens. A construção de um programa de resistência para enfrentar este momento eleitoral também é a ocupação da política.
Queremos estar em todos os espaços, no RS e na Câmara Federal. Como Marielle dizia “Eu sou porque nós somos”.
E enquanto nós lutarmos contra este sistema, nós vamos mostrar não só que não nos calarão, mas que quando tentarem silenciar um de nós, nós viraremos sementes e plantaremos frutos para uma nova sociedade igualitária, socialista, antirracista e feminista.
Uma sociedade em que a maioria controle a política e a economia. Viva a Marielle, viva o PSOL, viva a luta dos trabalhadores!